A Escola Particular Descobriu Sua Mina de Ouro (e Não é Aluno, Professor ou Mensalidade)

Durante toda minha vida acreditei que o maior tesouro de uma escola eram as pessoas e o ensino.

Os alunos, com seus cadernos abertos e sonhos sem medida.
Os professores, que transformam paciência em sabedoria e café em milagres diários.
As equipes que mantêm o ambiente vivo: a secretária que conhece todos pelo nome, o porteiro que dá bom-dia como quem protege um templo, a coordenadora que resolve tudo com firmeza e afeto.

A escola sempre foi vista como um lugar de valores, um espaço sagrado onde se constrói o futuro e se cultiva o melhor do ser humano: a curiosidade, o respeito, o saber.

Um território de ética, dedicação e esperança — talvez um dos poucos recantos onde o dinheiro deveria ser apenas um meio, e não um fim.

Mas, com o tempo, eu percebi algo MUITO PERTURBADOR, que passa como despercebido ou discreto, mas revelado como um absurdo absoluto.

Por trás dos discursos inspiradores, dos murais coloridos e dos slogans sobre “formar cidadãos”, surgiu uma engrenagem silenciosa, precisa e MUITO LUCRATIVA.

A escola particular: essa instituição que se diz formadora de valores, descobriu sua verdadeira MINA DE OURO.

E o curioso, isso não está nas mensalidades, nem nos alunos, nem nos professores.

Está em outro lugar, bem mais discreto, mas, infinitamente MAIS RENTÁVEL.

Chama-se APOSTILAS ou MATERIAL DIDÁTICO

Chega final de ano e junto com o calor, o papai-noel ou as férias, vem o clássico ritual das famílias brasileiras: a renovação da matrícula escolar.

É quando o pai e a mãe, ainda sonhando com férias pagas no cartão, descobrem que a escola particular do filho virou uma espécie de BOLSA DE VALORES, e o ativo mais caro do mercado chama-se: PACOTE DE APOSTILAS.

A escola explica com orgulho: “Estamos adotando um sistema de ensino completo, com material atualizado, plataforma digital e suporte pedagógico.”

Traduzindo: vai custar caro. Muito caro.

A mensalidade, claro, já foi reajustada — “apenas para acompanhar a inflação”, dizem, mesmo que a inflação seja de 4% e o reajuste, de 12%.

Mas o verdadeiro GOLPE vem no kit pedagógico: uma pilha de apostilas que custam um verdadeiro absurdo.

E o detalhe: você é obrigado a comprar, por que a escola particular te obriga a assinar um contrato te obrigando a usar o material por ela fornecido.

Ou seja: não há escolha, nem negociação, nem opção de “usar do primo do ano passado”.

Não. O material mudou.

O desenho da capa é novo, a cor da página 47 foi “atualizada”, e agora o mascote do sistema usa fone de ouvido, pra simbolizar a “modernidade”.

Por isso, o conteúdo inteiro precisa ser reimpresso e recobrado.

📚 A educação virou um negócio e dos bons

As editoras descobriram o ouro: vender papel com login e senha.

Chamam de “plataforma integrada de aprendizagem”, o que soa muito mais tecnológico do que “site com PDF caro”.

O sistema inclui provas, simulados, consultoria pedagógica e sei lá mais que trambolho, tudo empacotado num contrato milionário que a escola repassa aos pais, como se fosse um presente educacional e, obviamente, com lucro absurdo por cima.

Sim, a escola fatura muito com isso.

Em outros casos, ela revende as apostilas, com a devida margem absurda de lucro, com a ‘máscara’ disfarçada de ‘pacote educacional’.

Ou seja: enquanto o pai sua pra pagar, a escola lucra duas vezes: na mensalidade e no material.

💸 Escola particular não é sinônimo de riqueza

Há um engano que muitos cometem: achar que quem coloca o filho em escola particular é rico.

Na maioria das vezes, são famílias comuns, pais que fazem mil malabarismos pra pagar a escola, parcelam tudo no cartão, cortam lazer, adiam viagem, vão no SUS, tem os dentes amarelos…

Gente que não ‘nada em dinheiro,’ mas que apenas busca o básico que o Estado não consegue oferecer: ensino decente e segurança.

Porque escolher escola pública, no Brasil, não é escolha de verdade.

O governo decide em qual escola seu filho vai estudar, e você precisa aceitar.

Mesmo que a escola pública fique perto de casa, isso não a isenta de ter uma estrutura questionável ou não ofereça a segurança esperada em um ambiente educacional. O Estado é quem manda.

E é justamente essa falta de liberdade que empurra muitos ‘pais de classe média’ para rede particular, não por ostentação, mas por desespero silencioso.

Esses pais não estão comprando luxo.

Estão comprando tranquilidade e esperança.

E, ironicamente, pagando caro por um sistema que muitas vezes trata a educação como negócio, não como missão (mesmo que muitas vendam essa ideia).

🏅 Talento não importa tanto quanto o troféu

Curioso como mutas escolas particulares parecem mais preocupadas em caçar bons atletas do que reconhecer os talentos dentro da própria sala de aula.

O aluno que desenha, que escreve bem, que tem super dotação, ou que tem uma ideia inovadora muitas vezes é apenas mais um número.

Já aquele que se destaca no futebol, basquete ou ping-pong ganha holofotes, bolsa de estudo e até destaque em material promocional.

Não que esportes sejam irrelevantes, — longe disso. Mas fica a sensação de que a escola valoriza mais a vitrine do que o potencial de cada criança.

Enquanto a educação deveria nutrir o talento e a curiosidade, em alguns casos ela prefere cultivar medalhas.

E o mais irônico: o aluno que brilha nos esportes ajuda a vender a imagem da escola enquanto os outros talentos permanecem invisíveis, como se não contassem para nada na “mina de ouro” educacional.

🗑️ O luxo descartável

Chega dezembro e a montanha de apostilas vira um monte de papel inútil.

Ninguém quer, ninguém aceita, ninguém pode usar.

Nem para doação serve, o conteúdo “está desatualizado”.

Em menos de doze meses, o investimento de milhares de reais vira resíduo reciclável.

É o retrato mais fiel da educação que temos: cara, descartável e incoerente.

Um sistema que fala de consciência ambiental, mas obriga pais a comprarem toneladas de papel novo todo ano.

Que fala de ética, mas cria um modelo de negócio que prende famílias por contrato e culpa quem não consegue acompanhar os custos.

🧠 A verdadeira lição

No fim das contas, as apostilas ensinam sim, só que aos adultos.

Ensinam como o mercado educacional descobriu a fórmula perfeita da rentabilidade: um produto obrigatório, sem concorrência, com validade de um ano e que se renova automaticamente.

A escola continua dizendo que é “pelo bem do aluno”.

Mas quem estuda mesmo são os contadores.

E o aprendizado que fica é amargo: no Brasil, até a educação virou um luxo parcelado.

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